01 julho 2015

Um exercício de álgebra

Estão aí as férias e é uma boa ideia que bons e maus alunos, jovens ou já adultos, ocupem as suas mentes com exercícios de descompressão, diversões, aventuras, descanso, etc. Os que foram menos bons alunos são aconselhados a entremearem este ritmo com algum trabalho em matérias em que possam ter tido menor aproveitamento escolar. São bem conhecidas as dificuldades que alguns alunos têm revelado na aprendizagem da matemática; a sua componente de álgebra ocupa nessa aprendizagem um lugar destacado.
Neste trabalho de recuperação é aconselhado que os alunos o iniciem de forma lenta e progressiva. As contas de somar e de subtrair são um bom princípio para se iniciar a aprendizagem de recuperação, em álgebra. Pode-se começar por contas de subtração. Por ex., retirando uma unidade à sucessão de números: 1, 2, 3, …, 20.
1-1=0
2-1=1
3-1=2
. . .
17-1=16
18-1=17
19-1=18
20-1=19
Os alunos podem, seguidamente, ser aconselhados a fazer corresponder factos da vida real aos resultados obtidos: ter doze meninos e retirar um para obter uma equipe de futebol; ter dezassete laranjas e saber quantas calham a cada menino, quando uma está podre e os meninos são em número de quatro, etc.
Quando foi preciso dar um exemplo para a conta dos 19, chegou-se à frente um grupo de adultos de onde um, que se considerava mais espertinho, de sorriso largo, querendo mostrar grande sabedoria, disse: eu sei, eu sei. Todos ficaram espantados com tanta iniciativa e houve alguém que, imediatamente, disse: diz lá, diz lá!
E o espertinho acrescentou: então não estão a ver que na “zona do Euro são 19 países, eu espero que a Grécia não saia, mas se sair ficam 18 países". Está bem, disseram os outros, acrescentando: e depois?
Depois, acrescentou o espertinho, tudo se irá arranjar, a zona euro “irá sobreviver com a mesma força que teve no passado”. Aqui gerou-se grande discussão entre os amigos. Começou um por dizer, então a Grécia sai e tu achas que fica tudo como dantes, só mudando o número de 19 para 18?
Gerou-se uma grande discussão e embora eu não tivesse ouvido toda a conversa, sempre retive questões como as seguintes:
- A Grécia está numa união monetária que para funcionar exige a aceitação de regras. Por ex., quando um país entra num processo de deficit excessivo, deve tomar medidas (pelo lado da oferta e pelo lado da procura) de modo que esses deficits excessivos tendam a reduzir-se, não é assim?
- Responde um outro, está bem, mas estás a esquecer-te de que as mesmas regras dizem que se há países com deficit, há outros com superavit e que devem em consequência adotar medidas de política de sentido contrário.
- Volta o primeiro e diz, nem faltava mais nada, então os do deficit gastaram à tripa-forra e agora os que andaram a amealhar é que pagam a despesa?
- Estás completamente enganado, porque a tua tripa também ganhou com o deficit dos outros; além do mais esse é o custo de se fazer parte de uma união em que não somos todos iguais.
- Vem outro e diz, mudemos de conversa; então vocês acham que depois de a Grécia sair isto vai ficar tudo na mesma? Tem algum sentido criar-se uma união monetária quando, simultaneamente, não existe uma união económica, um mercado do trabalho unificado, um mercado de capitais com regras que favoreçam o projeto europeu?
- Já estou a ver onde queres chegar, tu queres é voltar a meter o Estado nisto tudo, e depois o contribuinte é que paga.
- Quem te meteu essas teias de aranha na cabeça? O Estado não está presente porque é Estado, mas porque há funções que faz, ou devia fazer, melhor que a iniciativa privada, do mesmo modo que há funções que a iniciativa privada faz, ou devia fazer, melhor que o Estado.
Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!
A conversa continuou e foi bem animada. Deu para, pelo menos, se concluir que não há vias únicas, i.e., só caminhos para os que vão da esquerda para a direita mas, também, vias para os que vão em sentido contrário.
Acontece que chegados aos 19-1, não poderá deixar de se aprender a conta dos 19-2, dos  19-3, etc. E, a seguir, teremos que nos interrogar sobre se a europa que fica ainda é a mesma europa  e se não será tempo de regressar às origens, ao pensamento inicial, e formatar uma outra Europa.
Cá por mim não tenho dúvidas. Pode ser que tenha que se vir a fazer a conta de 19-1, e que o resultado seja igual a 18, mas nada ficará como dantes, porque os arquitetos atuais do edifício que se chama Europa estão a querer aumentar o número de andares sem cuidarem dos alicerces que os deverão suportar.
A questão é preocupante, porque as fragilidades têm tendência a atraírem-se mutuamente. À da união monetária junta-se a dos barcos dos refugiados do Mediterrâneo, a mancha sempre crescente do estado islâmico, a instabilidade a leste.

Apetece perguntar: onde estão os Estadistas?
 

 

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